domingo, 7 de março de 2010

Transplante.



Dormi 4 horas esta noite.
Sonhei com o Nuno, é estranho mas sim, continuo a sonhar com ele.
Foi um sonho muito cor de rosa. Foi um sonho no verdadeiro sentido da palavra.
Fiquei então irritado com o meu sub-consciente. Não consigo perceber porque continua a insistir neste assunto.
Levantei-me da cama, mesmo em pijama entrei no carro, e comecei a conduzir.
Parei num letreiro luminoso que dizia ' *Broken Hearts Doctor* '.
Por estranho que pareça - sendo que eram 5 horas da manhã - o consultório estava aberto.
' Vou entrar! ' - Pensei
Estavam só duas senhoras sentadas na sala de espera, olharam-me com um ar surpreso.
' Não devem vir muitos homens aqui.. ' - lembro-me de ter pensado.
Sentei-me.
Numa mesa baixa de vidro estavam alguns livros e folhetos que anunciavam miraculosas operações que curariam qualquer coração partido, qualquer mal do coração.
Entre a confusão da mesa consegui ver livros como PS - Amo-te, Fazes-me falta e até um outro qualquer sobre terapias de casal. Não peguei em nenhum, achei que seria embaraçoso pois as senhoras não tiravam os olhos de mim. Acho que conseguiam sentir o ritmo da minha respiração.
Em poucos minutos a minha vez chegou. Fui abordado por uma rapariga morena e muito magra que me acompanhou até à sala do tal doutor. No percurso foi falando, tentanto por-me à vontade, mas sem sucesso pois nem conseguia olhá-la nos olhos.
Finalmente entrei no consultório. Tinha as paredes cor de salmão, demasiado salmão até.
O doutor sorriu para mim, como se percebesse tudo o que me ocupava a cabeça naquele momento. Levantou-se da cadeira almofadada, contornou a secretária tomando a minha direcção e sem que nada o fizesse prever deu-me um abraço forte. Apertado.
Voltou a sentar-se e disse-me:
' Fazemos-lhe a operação e vai ainda hoje para casa. Como novo! '
Fiquei embaraçado por estar de pijama, e assustado pois nem sabia o porquê da anunciada operação.
Naquilo entra na sala a rapariga morena acompanhada por uma outra.
' Esta é a  Dra. Carolina. É quem vai operar o Tiago. ' - disse o doutor.
Senti a mão dela no meu ombro.
Pediu-me que me deitasse na marquesa que ficava ao fundo da sala. Eu acedi.
' Tire a sua camisa por favor...pijama!!' - riu ela.
Quando tirei a camisola fiquei 'Uau!'. Tinha no meu peito uma mancha enorme, um borrão em vermelho sujo com uns contornos pouco definidos. Assustei-me.
Ao perceber o meu ar atrapalhado e numa tentativa de reconforto a doutora disse:
' Não se preocupe Tiago, vai ficar como novo. Perfeito! Se preferir pode fechar os olhos. '
Mas eu não fechei, fiquei atento a cada movimento dela.
Vi-a colocar umas luvas, tirou de uma gaveta um lenço que molhou numa loção espessa.
Senti o lenço molhado no meu peito, estava frio. À medida que ia passando o lenço no meu peito a mancha ia desaparecendo, até que ficou completamente limpo.
Senti-me fraco nesse instante, como se tivesse perdido sensibilidade.
Vejo a rapariga morena apróximar-se rápidamente com um tabuleiro nas mãos. Trazia-o carregado com objectos estranhos.
Passou à doutora qualquer coisa semelhante a um stencil , qualquer coisa com a forma de um coração. Foi-me colocado no peito, onde antes estivera a mancha. Tinha a textura de uma forma de silicone.
Vejo a doutora pegar num recipiente e verter um liquido vermelho no meu peito. Passados alguns segundos retirou o silicone e...'Uau!' sentia-me recarregado ou revitalizado sei lá.
Olhei e vi o resultado. Tinha um coração lindo no meu peito, vermelho vivo, bem definido, simétrico e tal como a doutora me havia dito antes, perfeito!
Sentia-me como um puto numa loja de doces com um sorriso patético na cara.
Sentia-me feliz.
Levantei-me e quase instintivamente abracei a doutora. Fiquei envergonhado depois de o fazer!
Sentia-me feliz e com necessidade de o partilhar.
Agradeci apressadamente e saí.
Ainda a vestir a camisola entrei no carro. Voltei a casa, tinha vontade de acordar toda a gente. Estava prestes a ter uma explosão de felicidade!
Mas tive de me controlar e então deitei-me. Fechei os olhos e forcei o sono.
Quando dei por mim estava de novo a sonhar, de novo com o Nuno.
Mas desta vez um sonho diferente, em vez de cor de rosa o sonho era azul e leve como natas batidas. Eu e o Nuno eramos amigos, apenas os melhores amigos.
E isso fez-me sorrir quando acordei.


" Obrigado Dra. Carolina! .) "

2 comentários:

  1. Sinto-me cada vez mais longe
    Por entre os esquissos que desenhamos...
    ... um dia...
    Perdemos tudo o que era lindo
    Visto de cima. E se o mar
    Me chamar, ficarei perdida...
    Pelos remorsos de pensamentos
    Irreais, sem te dizer o quanto te amo,
    O quanto te quero... porque um dia
    Te amei, e sempre te quis, para
    Que ficássemos a saber se vale a pena
    Engolir o orgulho e as
    Incertezas de um suspiro fundo
    E atingir o sorriso...
    Mas tu nem reparas te...
    Que te estou a amar...

    Qualquer coisa que escrevi no dia 15.Agosto.2005...

    Claro que o sentimento passou de paixão para amizade...
    Estou um pouco magoada contigo.... mas és meu amigo a mesma...

    beijos

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  2. Bem... depois de ler as palavras da Sofia sinto que não posso acrescentar mais nada. Esta história parece-me recorrente em ti!!
    Acrescento somente que adorei o teu sonho!! Quem me dera que as operações ao coração fossem assim tão simples...
    Xi
    RS

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